Os primeiros a percorrerem este trilho da Via Algarviana tinham um propósito religioso: prestarem homenagem às relíquias de São Vicente, encontradas no Promontório de Sagres.

Hoje em dia, talvez o propósito não seja religioso, mas isso não significa que um caminhante não sinta algo de místico, enquanto absorve toda a beleza da Natureza e da integração do Homem nesta, ao longo de 300 km de Algarve.

Das margens do Guadiana, em Alcoutim, às ondas do Atlântico, no Cabo de São Vicente, o caminhante poderá percorrer esta Grande Rota Pedestre (GR13) ao longo de 14 setores, que começam e terminam em localidades cheias de pequenas maravilhas para descobrir. Troços que se podem fazer independentemente do grande percurso.

Onze concelhos a caminhar

Esta longa caminhada atravessa onze concelhos do Algarve (Alcoutim, Aljezur, Castro Marim, Tavira, S. Brás de Alportel, Loulé, Silves, Monchique, Lagos, Portimão e Vila do Bispo) e 21 freguesias. Realidades distintas, unidas pela sua beleza natural e simpatia das pessoas.

Este percurso pedestre tem como ponto de partida um cais e atravessa uma zona de produção de cortiça e de aldeias típicas, como Salir, Benafim e Alte. Mais à frente, em São Bartolomeu de Messines, segue a Ribeira do Arade e a beleza que se impõe.

Silves é o ponto de paragem obrigatório, antes de se colocar a caminho da Serra de Monchique, casa dos pontos mais altos do Algarve: Picota e Fóia. Depois do lado selvagem da Serra, chega a floresta de pinheiro-manso pontuada com as zonas urbanas de Marmelete, Bensafrim e Barão de São João.

A pouco e pouco, vai-se sentindo o cheiro a maresia, o que significa o fim desta Via Algarviana e a aproximação do Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina.

Experiência sensorial

O percurso da Via Algarviana é mais do que uma experiência visual, é uma experiência que apela a todos os sentidos. O cheiro a alecrim, rosmaninho, funcho, tomilho, esteva, urze ou até as mais raras orquídeas, acompanha-nos ao longo das caminhadas e dos distintos 14 sectores.

Os sabores dos doces e licores que se mantêm nas pupilas gustativas, à medida que passamos pelas árvores e arbustos que fornecem a matéria-prima para estes prazeres do paladar: o medronheiro, a figueira, a alfarrobeira, o sobreiro e a amendoeira. Para não falar do mel, do queijo e dos enchidos que as pessoas transformam a partir daquilo que cuidam e tratam nas suas terras.

Sentir nas mãos a terra lavrada, a casca áspera das árvores, a frescura dos rios e ribeiras com que o caminhante se cruza. Ao mesmo tempo que se avistam tímidas lontras, lebres, javalis, raposas e, bem lá em cima, a águia de Bonelli ou o Bufo-real, enquanto se escondem o rouxinol-do-mato e o abelharuco.

Sem esquecer o fator humano da agricultura tradicional, das casas caiadas de branco, com as tradicionais chaminés locais, os ainda existentes moinhos de vento, eiras e fornos comunitários. Marca humana que se mistura com o natural e que cria uma experiência visual única.

A caminhar ou de BTT

Seja equipado a rigor, com roupa e calçado adequado, além de bússola ou GPS, ou mesmo com uma bicicleta, há espaço para todos nesta Via Algarviana. Mesmo aqueles que não se sentem em condições para percorrer os 300 km de troços, podem escolher um dos setores do percurso e simplesmente apreciar esses quilómetros, desta fantástica Grande Rota Pedestre.

Em relação aos fãs da modalidade BTT, podem contar com 90% do circuito ciclável. No entanto, recomenda-se alguma atenção à exigência deste percurso em termos físicos e técnicos: tem que ter uma boa preparação física para o fazer na globalidade.

Apesar da sinalização, aconselhamos aos caminhantes e aos praticantes de BTT utilizar GPS e descarregar as coordenadas existentes no website da Via Algarviana.

Do que está à espera? Aventure-se e conheça um Algarve escondido!